Hugo Garbe é professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Os recentes movimentos do mercado financeiro deixaram claro como as incertezas fiscais podem impactar rapidamente a economia brasileira. Na última semana, assistimos a uma disparada dos juros futuros e à valorização do dólar, em um cenário que contrastou fortemente com a queda dos yields americanos e europeus.
O comportamento dos mercados foi desencadeado pela decisão do Senado de devolver parte da Medida Provisória (MP), uma peça-chave para o aumento das receitas governamentais. Em meio a esse cenário conturbado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou que o governo está comprometido em equilibrar as contas públicas, aumentando a arrecadação e reduzindo a taxa de juros.
A decisão do Senado em devolver a MP, que incluía propostas essenciais para incrementar a arrecadação, gerou uma onda de preocupação no mercado. A reação foi imediata: os investidores, temerosos quanto à capacidade do governo de manter o equilíbrio fiscal sem as receitas adicionais previstas, elevaram suas expectativas de risco e isso se refletiu diretamente na elevação dos juros futuros e na valorização do dólar, em um claro sinal de desconfiança sobre a trajetória fiscal do país.
Em uma tentativa de acalmar os ânimos, Lula utilizou suas redes sociais para assegurar que o governo está “arrumando a casa”. Ele destacou que a combinação do aumento da arrecadação e a redução da taxa de juros são pilares para diminuir o déficit fiscal sem sacrificar investimentos públicos essenciais. A mensagem, embora otimista, não foi suficiente para tranquilizar os mercados.
O presidente também enfatizou a importância da reforma tributária, afirmando que a mudança será fundamental para criar um sistema tributário mais justo e eficiente. A reforma, que visa simplificar impostos e promover uma distribuição mais equitativa da carga tributária, é vista como crucial para fortalecer a competitividade econômica do Brasil e aliviar a carga sobre os mais pobres.
Apesar das palavras de Lula, o mercado reagiu com ceticismo. O índice Ibovespa, que havia operado em alta, reverteu os ganhos, refletindo a cautela dos investidores diante do cenário fiscal incerto. A devolução da MP pelo Senado reforçou a percepção de que o governo enfrentará desafios significativos para implementar as medidas necessárias ao ajuste fiscal, aumentando assim a volatilidade dos mercados financeiros.
O episódio destaca a sensibilidade dos mercados às políticas fiscais e à capacidade do governo de gerenciar a economia. A resposta negativa dos investidores sublinha a necessidade de ações concretas e bem executadas para garantir a sustentabilidade das contas públicas. O foco agora está na eficácia das futuras políticas econômicas e fiscais, particularmente na reforma tributária, que será um teste crucial ao governo.