Recentemente, mais um sucesso da Disney e da Pixar estreou nos cinemas trazendo mensagens importantes para os fãs das histórias e das animações. Mas, em ‘Divertida Mente 2’, o sucesso foi muito além do público infantil e adolescente. Mesmo que, historicamente, Disney faz sucesso em todas as idades, desta vez, a história realmente prendeu mais aos adultos do que as crianças, por abordar temas claramente muito vividos por outras gerações.
Na história, ‘Divertida Mente 2’ apresenta ao público quatro novas emoções, o tédio, inveja, a vergonha e a ansiedade, tema central do filme, com a ideia de que Riley, a protagonista da trama, chega à fase da temida puberdade e nesse processo, seu psicológico também está evoluindo.
A psicanalista e terapeuta sistêmica, Ana Lisboa, destaca que o filme é uma explicação lúdica e forte da neurociência, controle de emoções e inteligência emocional, além de abordar o tema da ansiedade – também como personagem – em uma animação como um alerta aos adultos sobre problemas da sociedade atual.
“Eu observo que adultos entre 25 e 40 anos em média, por exemplo, passaram por uma fase do tempo: tínhamos tempo para as coisas, uma geração que a internet ainda estava chegando, usávamos fita cassete, entre outros exemplos, e pegamos somente a fase de transição na adolescência para fase adulta, já em uma extrema aceleração, onde chega a ansiedade. Não é à toa que o Brasil está no topo do ranking mundial de ansiedade”, conta Lisboa.
Com o acesso a internet e a resolução de praticamente tudo pela palma da mão, via celular, a psicanalista destaca que hoje o desejo de ter muitas coisas, a comparação com outra pessoa, a repetição de comportamentos, e tudo ao mesmo tempo, deixa de lado o autoconhecimento e a autoaceitação, dando espaço para a ansiedade, como retrata a personagem Riley em diversos momentos.
“A personagem entra em um lugar de comparação, lugar de necessidade de pertencer e abre mão do que ela é. Abre mão dos seus conceitos e isso tem suas consequências. Eu falo que além da crise de ansiedade no mundo, ela vem acompanhada da crise de identidade. A Riley mostra claro isso pra gente quando ela muda o seu jeito de jogar, como atleta, pinta o cabelo, exclui suas amizades, tudo para pertencer a um novo lugar”, completa a especialista.
E a cura, segundo Ana Lisboa, está na própria solução que o filme sugere: o processo de autoconhecimento. A personagem Alegria, em alguns momentos, tenta ‘mascarar’ memórias e traumas de Riley, deixando guardando em um lugar escondido, mas durante uma crise de ansiedade, as memórias se colapsam e voltam à tona de um jeito ruim. “A verdadeira cura está na integração das partes traumatizadas, acolhendo as memórias ruins para se libertar delas e resgatar a verdadeira identidade”, finaliza Ana.