Na noite do último sábado, 11 de maio, um bombardeio da Força Aérea do Sudão atingiu uma área a 50 metros do Hospital Pediátrico Babiker Nahar, que é apoiado por Médicos Sem Fronteiras (MSF). A unidade de saúde fica em El Fasher, Darfur do Norte, e o ataque causou o desabamento do teto da unidade de terapia intensiva (UTI), matando duas crianças e ao menos um cuidador que estavam no local.
Este hospital era um dos poucos centros de tratamento especializado para crianças que se mantinha operacional desde o início da guerra. A unidade vinha recebendo transferências de toda a região de Darfur após muitos outros locais de atendimento terem sido forçados a fechar. Agora, mais uma unidade de saúde está fora de operação.
O incidente de sábado ocorreu após combates pesados entre forças do governo e paramilitares da Força de Apoio Rápido (FAR) em Darfur na sexta-feira. Na ocasião, 160 feridos – incluindo 31 mulheres e 19 crianças- foram levados ao Hospital do Sul, em El Fasher, que é apoiado por MSF. Entre os feridos, 25 já chegaram em estado crítico e morreram.
No domingo, 12 de maio, também houve intensos conflitos. Mais 130 pacientes feridos foram para o Hospital Sul, dos quais 16 morreram. Nos últimos três dias, as equipes de MSF admitiram um total de 290 pacientes feridos no Hospital Sul, e 41 deles faleceram.
Os combates de sexta ocorreram perto do hospital Babiker Nahar e levaram a que quase todos os pacientes fugissem em busca de segurança – muitos foram para o Hospital do Sul. De 115 crianças que recebiam atendimento no hospital Babiker Nahar, 10 permaneceram no local no sábado, quando ocorreu o bombardeio – incluindo as duas crianças que foram mortas. Agora, o hospital está fechado.
MSF está fazendo um apelo urgente às partes em conflito para que protejam civis e garantam a proteção de estruturas de saúde, já que são obrigados a fazê-lo de acordo com o Direito Humanitário Internacional e em linha com a declaração de Jeddah. Este documento foi assinado há exatamente um ano, com compromissos das partes em conflito de respeitar a população civil e facilitar o acesso à ajuda humanitária, justamente na data em que as crianças e o cuidador foram mortos.
Michel-Olivier Lacharité, coordenador de operações de emergência de MSF:
“Duas crianças que estavam recebendo tratamento em nossa UTI do hospital pediátrico, assim como um cuidador, foram mortos como resultado de danos colaterais após um ataque aéreo das Forças Armadas do Sudão. No hospital, 115 crianças recebiam tratamento, mas agora ninguém mais está sendo atendido. Mesmo antes disso já havia pouca disponibilidade de atendimento médico no Sudão devido ao conflito. O hospital pediátrico original foi saqueado no início da guerra. As crianças foram evacuadas para uma pequena clínica que reabilitamos e expandimos em maio e junho do ano passado. Transformar uma pequena clínica em um hospital funcional não é uma tarefa fácil, especialmente em meio a um conflito. Era um dos poucos hospitais infantis que restavam em toda a região de Darfur. Recebíamos transferências de toda a região de Darfur devido à falta de recursos em outros lugares. Agora temos um hospital a menos, justamente no momento em que tentamos ampliar nossa resposta em El Fasher e no campo de Zamzam, devido à crise catastrófica de desnutrição que acontece lá.”
“As 115 crianças que estavam no hospital recebiam tratamento para problemas de saúde como malária, pneumonia, diarreia e desnutrição. Agora, muitas delas não estão recebendo qualquer tratamento. As crianças que morreram estavam em estado crítico na UTI, mas suas vidas poderiam ter sido salvas. Isto não pode acontecer de novo. Lembramos às partes em conflito, com a mais alta gravidade, que hospitais e instalações de saúde não podem ser alvejados ou tornarem-se danos colaterais em um conflito. Também apelamos para que protejam civis – algo que de nenhuma maneira foi feito neste final de semana. Além das duas crianças e do cuidador, 25 pessoas feridas no conflito que chegaram ao Hospital do Sul na sexta-feira estavam em estado crítico e não foi possível salvar as suas vidas”.