Um dos mais importantes cineastas brasileiros, Walter Lima Jr., 85 anos de vida e 60 de carreira, segue em atividade. Para comemorar essa longa trajetória, ele recebe a retrospectiva “Em cima da terra, embaixo do céu – Os cinemas de Walter Lima Jr.”, na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, de 30 de abril a 19 de maio de 2024. Serão exibidos documentários, curtas, médias e longas-metragens, além de debate e oficina com o homenageado, curso com o diretor de fotografia Pedro Farkas e bate-papos. O evento, que conta com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal, será gratuito com retirada de senhas 30 minutos antes de cada exibição e atividade programada.
A programação está em https://www.caixacultural.gov.
Apaixonado por cinema desde a infância, o cineasta brasileiro passeou por diferentes gêneros, formatos e temas ao longo de seus 60 anos de carreira – iniciados oficialmente a partir do convite de Glauber Rocha para assumir a assistência de direção no filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, em 1963. A partir de então, Walter avançaria em filmografia própria.
A mostra “Em Cima da Terra, Embaixo do Céu – Os Cinemas de Walter Lima Jr.” busca celebrar, em vida, a trajetória premiada do cineasta, que se diz contente em ter uma retrospectiva desta grandeza. “Fiz os filmes para as pessoas se sentirem parte daquilo, e para trazer cultura, conhecimento. Isso comprova que fiz a minha parte. A mostra traz um conjunto de filmes e é bom ver este enfoque para poder fazer uma avaliação da obra em si. É uma panorâmica intensa, variada, de vários caminhos, várias direções”, avalia o diretor.
A obra de Walter Lima Jr. vibra em brasilidade. Já em seu primeiro longa-metragem, “Menino de Engenho” (1965), adapta a escrita de José Lins do Rego celebrando a beleza rural com ecos do pioneiro (e ídolo) Humberto Mauro. Passeia pelo Carnaval de rua em “A Lira do Delírio” (1978), abraça lendas folclóricas em “Ele, o Boto” (1987), revisita o passado histórico do país com “Inocência” (1983), “Chico Rei” (1985), “Através da Sombra” (2015), celebra a Bossa Nova com “Os Desafinados” (2008).
A curadoria, composta pelos realizadores Gregory Baltz e Kaio Caiazzo, coloca uma lupa em seus filmes, dos mais aclamados às obras menos conhecidas. É o caso, por exemplo, do documentário de média-metragem que dá nome à mostra. “Em Cima da Terra, Embaixo do Céu” é um filme de 40 minutos feito em 1982, sobre os limites da solidariedade em comunidades pobres do Rio e de Curitiba – obra desconhecida do grande público, e parte do acervo de Walter. A Mostra será a oportunidade de revisitar em tela grande obras marcantes e “desaparecidas” como “Brasil Ano 2000” (1968), “Na Boca da Noite” (1970), “Joana Angélica” (1979) e “Uma Casa para Pelé” (1992).
“Muitos dos filmes não estavam disponíveis em streamings ou mesmo em DVDs. Redescobrir a obra de Walter e celebrar isso em vida ficou sendo a nossa missão”, ressalta Kaio.
Walter Lima Jr. é um dos diretores mais premiados do Brasil. Urso de Prata no Festival de Berlim por “Brasil Ano 2000”, Prêmio Cinema D’Avennire no Festival de Veneza por “A Ostra e o Vento”, Prêmio Air France e Festival de Havana por “Inocência”, e muitos outros do circuito brasileiro.
O homenageado conta que cada projeto tem sua importância. “O momento mais feliz foi quando vi meu primeiro filme pronto, por exemplo. E gosto muito de um filme, particularmente, “Os Desafinados”, que é um testemunho de vida. Vivi aquelas coisas que estão sendo contadas no filme. Mas também tem “A Lira em delírio”, “Inocência”. Posso dizer que me sinto muito próximo dos filmes que fiz. E os filmes dizem isso: os ciclos da vida, encontros e desencontros”, diz.
“Foram muitos os diretores cultuados que só conseguiam agradar aos prêmios e festivais. Também muitos os nomes que conseguiam encher as salas, porém esnobados pela crítica. Walter está no centro: seu cinema tem a proeza de equilibrar os dois lados num saldo mais que positivo”, ressalta Gregory Baltz.