Organizado pelas psicanalistas Patrizia Corsetto e Rinalda Duarte, o 2º volume traz a articulação entre Psicanálise e Arte e reúne 33 autores
O primeiro volume do livro Amor, Desejo e Gozo foi lançado em 2017 e, agora, a editora parte para o volume 2, desta vez, com uma dobra a mais, Psicanálise e Arte, e com a tessitura do laço de trabalho e amizade que une as duas organizadoras.
Rinalda Duarte ressalta que “para convidar o outro é preciso se entregar, estar disposto ao encontro com o não eu. A partir desta proposta nasceu o segundo volume, no encontro com a alteridade, inclusive com a nossa própria, pois somos opacos para nós mesmos. Este livro tem seu corpo constituído de muitos outros corpos, mas que não faz um “nós”. Convidamos 33 autores que pensamos ter intimidade e transferência com o tema, cada um, com sua singularidade, e liberdade de escrever a partir do que os move, da afinidade teórica, clínica e de sua relação com a arte”.
A psicanalista e jornalista Patrizia Corsetto, que também assina semanalmente esta coluna, conta que o desejo com este projeto foi recolher uma coletânea plural, polifônica, heterogênea, respeitando o estilo de cada autor e sua relação com a escrita. “Cada um com seu cada qual, mas não sem o outro. Assim como uma obra de arte acontece diante do seu fruidor, o livro acontece no encontro com seu leitor. Um livro vivo a cada encontro. Reunimos neste volume 2, psicanalistas que também transitam pelo cinema, teatro, artes plásticas, fotografia, literatura, dança para pensar a ética que norteia a clínica, a experiência estética, a linguagem”.
Os textos dos autores se encontram com a literatura de Annie Ernaux e Clarice Lispector, a fotografia e o cinema de Agnès Varda, o teatro de Bunraku, a música e a poesia de Cazuza, a fotografia e a escrita da artista de instalação Soffie Calle, a tragédia de Antígona.
O prefácio foi escrito pelo psicanalista João A. Frayzer-Pereira, que tem se dedicado de forma singular a pensar a relação entre psicanálise e arte. Longe de reduzir a uma aplicação de um campo a outro, reivindica uma relação de implicação entre psicanálise e arte, cunhando o conceito de psicanálise implicada.
“Nessa medida, quando se consideram as articulações entre a psicanálise e a arte são inúmeras as perguntas que podem surgir, questões que definem uma área de pesquisa considerável, desde a primeiras décadas do século XX, quando psicanálise e modernismo passam a coexistir. E, de fato, muitos modernistas convulsionaram a Viena de Freud, embora este nunca tenha se referido a eles. No entanto, não são poucos os pontos de aproximação entre arte moderna e psicanálise como, por exemplo, o fascínio pelos mitos, a origem e o elementar; o valor atribuído aos sonhos, às fantasias e à sexualidade; a sensibilidade à mulher, à criança e ao louco; a reflexão sobre o estranho e a alteridade. Além disso, avançando no século XX, constata-se a emergência de certo tipo de sensibilidade, definida no âmbito da afetividade e da emoção, que não se deixa reconduzir com facilidade às referências clássicas da estética. Nesse sentido, se a arte moderna, sobretudo o surrealismo, incorporou termos psicanalíticos em seus próprios discursos, a arte contemporânea, aberta à filosofia e às ciências, também considera Freud um autor relevante para a prática e a leitura das artes. Entretanto, a psicanálise compatível com essas não é a que forneceria modelos interpretativos, mas um modo de pensar que busca escapar da repetição ao infinito do que teoricamente já se sabe. Nesse sentido, o psicanalista estaria disponível para analisar os temas e formas que as obras lhe ofereceriam para apreciação e estudo. Nesse sentido, ao ser analisada a relação entre arte e psicanálise, surge a pergunta: seria possível escapar dos constrangimentos impostos por um enquadre teórico pré-estabelecido que levaria o intérprete a perder de vista a singularidade, tanto da obra de arte quanto do paciente? Seria possível ao psicanalista evitar o risco de reduzir o novo, apresentado por seu outro (obra/paciente), à condição de mera ilustração de conceitos psicanalíticos consagrados?”, pontua João Frayze-Pereira.
A capa do livro é uma foto da carta de Freud à Arthur Schnitzler, de 8 de junho de 1922, exposta no Museu Sigmund Freud, Berggasse 19, Viena, tirada pela psicanalista e fotógrafa Rinalda Duarte. Essa carta contou com duas traduções: de Ernani Chaves e Elizabeth Brose,
O projeto gráfico traz ainda duas ilustrações. Uma da facilitadora poética Fátima Affonso e a outra da psicanalista Fábia Branco.
“É com uma libra de carne que se faz um livro. Aqui temos muitas libras, uma vez que cada autor deixa cair algo seu na aposta de ser encontrado pelo leitor”, diz Rinalda Duarte.
Ciclo de Palestras
Para celebrar a publicação, as organizadoras da obra estão promovendo um ciclo de palestras com os autores na Livraria da Vila, na Rua Fradique Coutinho, 915, na Vila Madalena, em São Paulo, durante o primeiro semestre, nos meses de abril a junho. O evento é aberto ao público e gratuito com mediação da psicanalista e jornalista Patrizia Corsetto.
Também estão previstos lançamentos nas cidades de Curitiba, Campinas e Salvador.
Acompanhe a programação:
19/4 – Curitiba – PR
Lançamento e debate na Universidade Tuiuti do Paraná com as psicanalistas Rinalda Duarte e Maria Virgínia F. Cremasco e o psicanalista Willian Mac-Cormick.
Livraria da Vila – Fradique – São Paulo
26/4 – Debate com os psicanalistas Leandro dos Santos, Enzo Pizzimenti e Ivan Estêvão
04/05 – Debate com o psicanalista João Paulo Severo e as psicanalistas Daniele John e Bianca Dias
18/05 – Debate com os psicanalistas Laerte de Paula e Alexandre Patricio de Almeida e a psicanalista Clarissa Metzger
15/06 – Debate com os psicanalistas Vinicius Lopes Aranha e as psicanalistas Ana Gianesi e Graziela Marchetti
24/06 – Debate com as psicanalistas Ana Laura Prates, Ana Vicentini e Tatiana Assadi
O livro está disponível no site da editora: www.calligraphieeditora.com.br
@calligraphieeditora
Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e psicanalista e
assina semanalmente a coluna de cultura