O Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Criado em 1959, foi idealizado por Edgard Cavalheiro quando presidia a CBL, com o interesse de premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destacassem a cada ano.
Mas por que nomear o prêmio de “Jabuti”? De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, quando a premiação foi criada, o Brasil passava por um momento cultural e político voltado para a valorização da cultura popular brasileira e de suas raízes indígenas e africanas. O artista que esculpiu a primeira estatueta utilizada no Prêmio Jabuti foi Bernardo Cid de Souza Pinto, escolhido por Diaulas Riede, então presidente da Câmara.
Nesse período, os artistas e escritores, em geral, valorizavam as figuras míticas carregadas de sabedoria e experiência de vida, típicas da cultura popular brasileira. Assim como Monteiro Lobato, que usava personagens fantasiosos em suas histórias, a premiação escolheu a figura do Jabuti para representá-lo.
Ao longo dos seus 65 anos de realização, o Prêmio Jabuti foi se transformando e hoje é dividido em quatro eixos e 20 categorias: conto, crônica, história em quadrinhos, infantil, juvenil, poesia, romance literário, romance de entretenimento (literário); artes, biografia, documentário e reportagem, ciências, ciências humanas, ciências sociais e economia criativa (não-ficção); capa, ilustração, projeto gráfico, ilustração (projeto gráfico); fomento à leitura e livro brasileiro publicado no exterior (inovação).
O prêmio também passou a contar com uma nova categoria: Escritor(a) Estreante, para oferecer visibilidade a um(a) escritor(a) em seu primeiro livro, dando-lhe a oportunidade de alcançar um público amplo e estimular outras pessoas a escreverem seus próprios textos e livros.
Em cada categoria, o livro vencedor ganha uma estatueta do Jabuti para o autor, e uma para a editora que o publicou. O escritor também recebe um prêmio no valor bruto de 5 mil reais. A única exceção é a categoria Livro do Ano. A editora também recebe uma estatueta especial.
O Prêmio Jabuti está sob a curadoria de Hubert Alquéres, que tem uma relação estabelecida com o Jabuti como coordenador da Comissão da premiação na CBL, nos últimos seis anos.
A Câmara Brasileira do Livro é uma organização sem fins lucrativos, que tem por objetivo representar profissionais do setor literário. Além do Prêmio Jabuti, ela também criou a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, um dos eventos literários mais importantes do Brasil.
Jabuti Acadêmico
Mas por que criar um prêmio acadêmico?
O Prêmio Jabuti Acadêmico, realizado pela Câmara Brasileira do Livro com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), é uma distinção anual inédita destinada a obras acadêmicas publicadas em língua portuguesa no Brasil.
A premiação, tem como foco obras científicas, técnicas e profissionais, reconhecendo e divulgando autores e editores destacados nesses segmentos.
O objetivo é incentivar e valorizar a excelência na produção acadêmica nacional, buscando reconhecer contribuições relevantes para o desenvolvimento científico, social, político e cultural do país.
Embora haja uma base compartilhada, o Prêmio Jabuti e o Prêmio Jabuti Acadêmico apresentam diferenças notáveis em sua configuração.
Diferentemente do Prêmio Jabuti, o Jabuti Acadêmico estrutura-se em dois eixos principais: Ciência e Cultura e Prêmios Especiais, totalizando 29 categorias relacionadas às áreas do conhecimento acadêmico.
Algumas categorias incluem Ciência de Alimentos e Nutrição, Medicina, Educação Física, Ciências Biológicas, Antropologia, Direito, Economia, Artes, Ilustração, entre outras.
Os vencedores de cada categoria serão homenageados com uma estatueta e um prêmio de R$ 5 mil durante uma cerimônia especial. As editoras das obras premiadas também receberão uma estatueta do Jabuti.
As inscrições vão até o dia 19 de março e as informações sobre os finalistas e detalhes sobre a cerimônia de premiação serão divulgadas ao longo do ano, através do site e rede social oficial: https://www.instagram.com/jabutiacademico/.
O livro Por um fio: uma escuta das diásporas pulsionais, do psicanalista Kwame Yonatan Poli dos Santos, graduado em Psicologia pela Unesp-SP, mestre e doutor pela USP, concorre na categoria Psicologia/Psicanálise.
O livro, editado pela Calligraphie Editora, é fruto da escuta clínica em consultórios, nas políticas públicas e no coletivo margens clínicas. O autor traz em seu livro o conceito de aquilombamento.
“Existem várias definições do que seria aquilombamento. Falarei de duas e atrelarei com a sua importância. Primeiro, entendemos aquilombamento como uma reorientação ética, o necessário deslocamento diante da fantasia colonial forjada pelo mito da democracia racial que conta que o Brasil nasce da harmonia entre as três raças: o negro, o branco e o indígena. Nunca houve essa paz, sempre houve conflitos pois tentou-se subjugar povos negros e indígenas e estes responderam re-xistindo, isto é,
afirmando sua existência seja por meio das religiões de matriz africana, seja pela transmissão de perspectivas sobre território e luta pela terra etc. Beatriz Nascimento, umas das nossas referências no estudo sobre aquilombamento, nos ensina onde houver um traço vital negro ou indígena, haverá um quilombo. O que nos leva a segunda definição, o quilombo é um muro sem os muros coloniais, para que isso ocorra é preciso acontecer a demarcação de terras indígenas, a reforma agrária etc.”, ressalta o psicanalista.
Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e psicanalista e
assina a coluna de cultura semanalmente