Música é atemporal. Toca a cada um, de forma diferente. Mas ela tem o poder de emocionar, seja qual for o tempo. Música é memória. Música é herança. E quando dois psicanalistas se encontram fazem arte, fazem música!
DNA é um duo de voz e violão composto por Ana Prates (voz) e Dani Mello (violão). O encontro desses dois artistas se deu a partir do projeto idealizado por Ana Prates de fazer um show com “nomes de mulher”, dando sequência ao show anterior da cantora intitulado “Por causa da mulher”, que tem a ver com a pesquisa de Ana Prates, também psicanalista, sobre o tema da feminilidade. “Eu já tinha escolhido algumas músicas, mas eu não tinha uma parceria. A concepção era um show, com voz e violão, e eu queria um músico amador, até porque eu não sou uma cantora profissional. Conheço muitos músicos, profissionais e amadores, mas eu estava a procura de um músico que tivesse a ver com o meu estilo. Conheci o Dani, no instagram, e comecei a acompanhá-lo nas redes. Trocamos algumas mensagens e eu acabei o convidando para o projeto”.
Dani Mello, também psicanalista, já acompanhava Ana Prates, mas pelo seu trabalho como psicanalista, inclusive, foi seu aluno em um curso que ela ministrou em uma instituição. Da psicanálise para a arte foi questão de um acorde. “Eu já a admirava e começamos a ver que tínhamos muita afinidade musical, gostávamos das mesmas canções, compositores e compositoras, estilos musicais e até das mesmas referências que passam por Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, João Gilberto, Wisnik, Gal Costa, Maria Bethania e Marisa Monte”.
Ana Prates ressalta o gosto bastante eclético da dupla. “Não temos preconceito em relação a nenhum gênero musical, ouvimos de tudo. Mass o que nos norteia na música é a Bossa Nova, que eu cresci ouvindo em casa, seus herdeiros como Caetano, Gil, Bethania e Gal Costa, Milton Nascimento e os mineiros do Clube da Esquina, e da nova geração, Emicida, Criolo, Racionais, Iza e Luisa Sonza, além das influências do jazz e do rock. A herança musical vem também do hábito da escuta, da importância da música, pelo que ela representava na época, pois eu passei a infância na ditadura e ouvir o Chico, por exemplo, era uma resistência. Meus pais frequentaram muito as reuniões da Bossa Nova, minha mãe gostava de cantar, fui casada com um músico e cantei em festivais e na noite.”
Dani Mello trilhou o caminho de todo jovem apaixonado por música, tendo passado por vários instrumentos como bateria, baixo, guitarra, até se decidir pelo violão com corda de nylon, tocou em banda e teve influências como Blink 182, Pink Floyd, Beatles, Green Day. “Eu gostava muito de punk rock, mas depois comecei a ouvir outras coisas e a fazer novas descobertas na música, influenciado pelo que meus pais ouviam em casa”.
A origem do DNA
O nome DNA tem a ver com o nome da dupla, Dani e Ana, mas também tem como referência uma música do Wisnik chamada DNA, que diz da descoberta de uma filha que ele não sabia que tinha, chamada Daniela. “É uma música que fala desse encontro atemporal”, ressalta Ana.
Durante os ensaios para o show “Nomes de Mulher”, Ana e Dani também começaram a compor. Segundo eles, a parceria se deu de forma natural e orgânica. “O Dani tinha composto uma valsa, bem ao estilo Chico Buarque, mas que tinha alguns problemas com a letra, com o refrão. Ele me mostrou e propôs que eu terminasse a canção. Eu sempre escrevi poemas, por exemplo, mas nunca tinha feito uma letra para uma composição. A letra trata de uma desilusão amorosa, contada a partir de um eu lírico feminino e se chama “Imensidão”. Hoje, temos cinco composições, passando pelo xote, reggae e outros estilos”, conta Ana.
A dupla vem se apresentando em saraus, como o do jornalista Luiz Nassif, que reúne músicos do naipe de Renato Braz, Eduardo Gudim e Yamandú Costa e dado canja em show de amigos cantores. “Estreamos o show “Nomes de Mulher”, no ano passado, no Rio de Janeiro, e vamos fazer no Sesc Piracicaba, Casa Guilherme de Almeida e no estúdio do Guga Stroeter. O show conta com 15 canções brasileiras e é bem intimista, com cerca de pouco mais de uma hora. Começamos com um pout-pourri meio machista, que tem canções como Amélia, depois radicalizamos e passamos para Ismália do Emicida, Maria Maria do Milton Nascimento, Janaína do Biquini Cavadão, Luiza e Ligia do Tom Jobim, Laura do Francis e Olivia Hime, Colombina do Ed Motta e Rita Lee, que é uma homenagem a minha mãe Regina, entre outras. Conseguimos partituras bem legais para compor o show, que tem uma narrativa muito bem costurada e é a nossa cara. É um show delicado, feminino e plástico. Apesar de não termos um cenário imponente e nem tantos recursos, ele é bem cênico e permite brincar com o figurino e seus adereços em cena, tornando a cena visualmente atraente e sensual. Em alguns momentos, invertemos os papéis, o Dani canta e eu toco violão”, contam Ana e Dani.
A dupla está deixando a coisa acontecer e pensa essa passagem do amador para o profissional de forma natural. “Nós levamos esse projeto muito a sério, ensaiamos e nos dedicamos mesmo e pensamos em gravar futuramente. Com a nossa aparição nas redes sociais, especialmente no instagram, as pessoas passaram a nos conhecer e acompanhar. Estamos trilhando essa caminhada e vamos ver aonde vai dar. A receptividade tem sido muito boa”, diz Ana.
Pergunto a Ana e Dani, qual a relação da Psicanálise com a Arte, da Psicanálise com a Música. O que a psicanalista (o) ensina a cantora (o) e vice-versa. Se a música permite uma escuta mais apurada ao analista em seu setting. “A arte e mais especificamente a música estão muito presentes na minha vida. A arte realmente precede a psicanálise. Para mim é muito forte tanto os efeitos musicais quanto os efeitos musicados que a música pode causar em um sujeito. Estamos falando de afetos e emoções. Escutar um analisante como se escuta uma música, um estilo”, diz Dani Mello.
Para Ana Prates, “a gente precisa da arte porque a vida não basta. Para mim, claramente, é uma maneira de sobreviver. É um tratamento. A minha vida é uma grande trilha sonora. A minha vida é um filme trilhado. Falando da clínica, é escutar as ressonâncias, o silêncio, os intervalos”.
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Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e psicanalista e
assina a coluna de cultura semanalmente