Pequenas editoras especializadas em títulos de psicanálise encontram nesse nicho espaço para crescer oferecendo publicações diversificadas e visibilidade para autores fora do universo das grandes livrarias
Distante dos grandes grupos editoriais e dos best-sellers, as pequenas editoras encontram na resistência o seu protagonismo. Se o panorama para as editoras independentes sempre foi desafiador, encontrar alternativas na adversidade tem feito com que elas consigam driblar as questões econômicas e o fato de não terem espaço nas prateleiras das grandes livrarias.
A saída encontrada tem sido investir em sites bem elaborados e de fácil navegação para a venda dos livros; tiragens pequenas, mas muito bem cuidadas; uso das redes sociais como solução de marketing; aposta em autores com projetos interessantes; realização de lives, rodas de conversas, podcasts e boas parcerias. Soluções essas, que têm rendido bons frutos. Talvez, o grande diferencial das editoras independentes seja o olhar para novos autores.
A Calligraphie Editora, das sócias Patrizia Corsetto e Tais Martins, há sete anos no mercado, nasceu do amor das editoras pelos livros. O primeiro título da editora, inclusive, surge a partir do desejo de Patrizia de organizar uma coletânea de psicanálise, da qual fariam parte autores que participaram do projeto Diálogos do Lacaneando, até então, com cinco anos, que era um ciclo de palestras realizado na Livraria da Vila, mensalmente, nas cidades de São Paulo e Curitiba. “Costumo brincar que o livro nasceu antes da editora. Foi ele que validou o nosso desejo. E lá se vão sete anos”, ressalta Patrizia.
Com sede em Curitiba, mas com toda a produção editorial sediada em São Paulo, a Calligraphie Editora conta com 18 títulos publicados, nas áreas de psicanálise, psicologia, literatura e poesia. “Nosso carro-chefe são os livros de psicanálise e nossa curadoria tem como objetivo valorizar a pesquisa acadêmica e privilegiar títulos que tragam para o debate temas atuais como as questões raciais, de gênero, decolonial, entre outras. Já publicamos dois autores estrangeiros, que confiaram no nosso trabalho, e pesquisadores ligados às universidades como a PUCPR e PUC-SP. Como somos uma editora pequena podemos dar a cada autor um tratamento personalizado. Cada publicação para nós é única. Acho que o ponto forte da editora é a visibilidade que damos para os livros que publicamos através dos lançamentos, realização de eventos, entrevistas e podcasts. Queremos ser a melhor parceira para os nossos autores”.
A pandemia foi um hiato para as pequenas editoras, mas mesmo sem a possibilidade de promover lançamentos de forma presencial, muitas delas, publicaram nesse período e fizeram lançamentos online. A tecnologia e as redes sociais têm se tornado aliadas importantes e acessíveis financeiramente para editoras que não tem capital de giro significativo.
Outra editora que vem se destacando no mercado editorial é a Larvatus Prodeo, da psicanalista Ana Laura Prates, que sustenta o projeto de tornar públicas ideias relevantes, criativas e transformadoras, resgatando a vocação original do ato de publicar.
Com nome inspirado em uma expressão latina, utilizada por René Descartes, larvatus prodeo significa “avanço mascarado”. Forjada a partir de um deslocamento do sentido de pro Deo (para Deus) para prodeo (mascarado), a expressão condensa a proposta de sustentação da palavra escrita em um mundo cada vez mais tomado por imagens.
Suas coleções testemunham o compromisso com a livre circulação do pensamento, o debate democrático e esclarecido, o rigor científico e a invenção artística e literária. Seus autores são os parceiros que sustentam conosco esse projeto.
A Larvatus Prodeo conta com três coleções: Heresia Lacaniana (publica livros autorais ou coletâneas de artigos que tenham como referência o rigor da obra de Sigmund Freud e a orientação do ensino de Jacques Lacan, contribuindo com a manutenção da psicanálise no mundo contemporâneo e com a presença do discurso do psicanalista nos demais laços sociais predominantes na polis); Singularidades (publica livros autorais ou coletâneas de artigos que digam respeito à inclusão, direitos humanos e cidadania, colaborando para a desconstrução do preconceito e de qualquer forma de discriminação e contribuindo, para a construção da sociedade da diversidade que leve em conta as diferenças de raça, gênero, religiões e pessoas com deficiência) e Fio e Foco.
A jovem Editora Discurso, nascida em 2020, edita livros de psicanálise. A proposta é a de publicar e fazer circular livros de psicanálise e áreas afins, considerando de suma importância não só a qualidade das publicações, mas também o modo como são apresentadas e chegam ao público.
A obra inaugural foi o livro “A criança em análise e as intervenções do analista”, da psicanalista argentina Alba Flesler, traduzida e lançada no Brasil em 2021. A segunda publicação, inovou também no formato, por ser um livro bilíngue (português e francês) e inédito, do psicanalista francês Roland Chemama.
À frente da editora, o psicanalista Josias S. Fontoura que criou a editora com essa ética em seus fundamentos, propondo letras, palavras, linguagens e autoria a novos discursos.
Fazem parte do Conselho Editorial, membros que representam, sobretudo, uma afinidade com a psicanálise e uma aposta simbólica no trabalho da editora, circunscrevendo critérios e valores em consonância com a ética da psicanálise e a condição de poder fazer laço através de seu discurso.
A Atos e Divãs Edições, do psicanalista Antonio Quinet, é uma editora e livraria dedicada à psicanálise e literatura. Constam do catálogo livros clássicos, que são aqueles publicados antes de 2021 e que contam com mais de uma edição e títulos que fazem a interface psicanálise e teatro. Entre os autores que fazem parte do portifólio da editora, psicanalistas renomados como Colette Soler, o próprio Antonio Quinet, Marco Antonio Coutinho Jorge e Maria Anita Carneiro Ribeiro.
Serviço:
www.calligraphieeditora.com.br
@calligraphieeditora
@larvatusprodeoeditora
@editoradiscurso
@atosedivas
Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e psicanalista e
assina a coluna de cultura semanalmente